
De manhã, volta o carcereiro com o café e diz:
─ Como passou anoite?
─ Ah, meu amigo, quase morri de febre e calafrios, ontem à noite.
─ Como assim? Que febre foi esta?
─ Do nada fiquei muito mal, então não tive escolha, chamei enfermeira, apertei a campainha de emergência.
─Que emergência? Que enfermeira?
─ A mulher de olhos azuis, a carcereira substituta.
─ Que mulher? Você ainda está delirando!
O prisioneiro ignora o comentário do amigo, que logo vai embora. Ele sabe que tudo que viveu na prisão foi real. Mas a cena quase erótica, sensual demais para alguns, pode de fato ter ocorrido? Como Charles Bukowski a escreveria? Há um pudor irresistível que impede o escritor de ir mais longe na liberdade poética da qual pode lançar mão e fazer uso pleno. Assim o leitor tem mais liberdade para escrever ou reescrever a cena, da maneira que lhe convier, como deseja ler.